sexta-feira, 4 de março de 2016

Ábaco



Deveria tornar-me louco a ponto de admitir, à base de um Whisky 12 anos escocês e um bom cigarro enquanto sentado na varanda, que estou torridamente apaixonado. Não daquele modo passível de subestimar-se, no qual apenas sonha em roubar um beijo e torná-lo eterno, pois seria deveras medíocre. Porém, por instantes hesito em dizer que poderia provar ser algo maior. Talvez pela necessidade de admitir que tão logo meus olhos a viram, percebi que experimentaria ao menos uma vez em minha vida o sofrimento de um platônico.

É terrivelmente obcecante a maneira com que seus olhos tentam contar alguma história sem fim aos meus. Poderia passar todos os meus dias de insônia tentando somar as inúmeras vezes com que eles se encontram,  na qual sorrio disfarçadamente sem desviá-los por um instante, apenas pelo prazer de vê-la sorrir sem entender o porquê.

Faço questão de silenciar qualquer barulho dentro de meus pensamentos para poder apreciar o som da sua voz, emoldurado pelo seu sorriso como uma obra valiosa. Creio que fugir para lá seria muito mais do que a mediocridade de uma paixão habitual. Seria talvez um refúgio, um recomeço como todos os outros, em meio a tantas novas vontades de mudar.

Porém, obviamente, nada passa de uma varanda, um whisky e um cigarro, observando um mundo a ser descoberto lá no térreo. Nada passa de um platônico, observando todo o movimento abaixo de seus pés, cogitando estar esperando de malas prontas a próxima fuga.