quinta-feira, 15 de junho de 2017

Sweet voice, Sweet night.



Cada segundo de meu dia passa vagarosamente. Não consigo tirá-la um instante sequer de meus pensamentos. Dou passos em falso, tropeço, esbarro. Dirijo como se em alguma esquina ou alameda houvesse um cálice de seu sorriso perdido entre os transeuntes, ou em meio às árvores, ou em meio a qualquer outra coisa que possa me chamar a atenção por ali.

Longe dela sinto-me alegre, mas ao passo que percebo que sua ausência me deixa um tanto imóvel, começo a beirar a loucura. Tudo isso a par de saber através da posição da sombra em minha varanda quantos minutos ainda tenho que esperá-la.

O sol está prestes a dar-me o último adeus, por algumas horas. Vejo, mais uma vez, um coalescente de nuvens que intercalam-se aos tons alaranjados e rosados do fim da tarde, em contraste com um céu de maioria anil cinzento já sobre a minha cabeça. 

"Ela está prestes a chegar."

De fato, poderia fugir para algum lugar mais calmo, longe da polvorosa de meus pensamentos, mas arrisco mais uma vez fitar nela os meus olhos. 

Minha mente, deveras condicionada, insinua que estou sentindo o seu perfume. Meus ouvidos aproveitam a deixa para ouvir a sua voz doce. Meus olhos passam a ver o seu sorriso e já não sinto-me motivado a tirá-la de meu apartamento. Pelo contrário, peço-a que feche a porta e que sente comigo para bebermos algo que, enquanto esperava sua chegada, guardei para nós dois.

Enquanto ela me fita com um olhar profundo e um sorriso contido, uso mil e uma palavras para contornar o que realmente sinto. Tento guerrear contra minha dose de bom senso, que diz que ela detesta estar ali, comigo. Mas afinal, porque o faria sem parar, dia após dia?

Acendo meu cigarro, bebo mais um cálice de seu sorriso e percebo que já não posso mais fugir. Finjo não saber que ela gosta de me fazer companhia. Finjo não saber que a cada vinda, ela me me mata aos poucos. Finjo não saber que eu deveria fugir. Finjo, até mesmo, que seria impossível apaixonar-me pelo mal que ela me faz.

Enquanto a observo com ar de sóbrio, imploro dentro de mim que, ao menos dessa vez, ela não se vá.