Enquanto os internos preparavam-se para se apresentar em forma ao final da tarde, percebo, de longe, um discreto garoto que afasta-se sorrateiro a fim de tomar rumo de sua obrigação.
Acompanho seus passos tentando vigiar seu caminhar apressado, em direção a uma velha bicicleta. Sem sucesso, busco adverti-lo para que retorne ao grupo. Com pressa de ganhar suficiente distância, por fim, faz-se perder de vista em meio às ruas de calçamento que nos cercavam.
Enquanto dirigia à sua procura, o sol se punha em um espetáculo no horizonte, embalado por uma brisa suave que carregava algumas nuvens e um ar fresco àquele pacato bairro.
A postura distinta do jovem aventureiro não dificultou minha tentativa de encontrá-lo. Ao contrário, pude acompanhar de longe seu trajeto até o outro lado da cidade que, àquelas horas, era iluminada pelas luzes dos postes.
Estaciono meu carro quando percebo que, após longo e desafiador trajeto, alguém o esperava no meio de uma não tão movimentada avenida.
A tímida jovem caminhava em sua direção e, como que eterno, o abraço que parecia ser o primeiro de suas vidas, fez minha discrição valer a pena. Tamanha era a mágica de seu encontro, sequer os poucos carros que passavam ao seu lado na rua, eram capazes de fazê-los desperdiçar o pouco tempo que lhes restava.
A brisa suave que ainda acariciava as folhas das árvores ao redor daquele casal trouxe, como um agrado que fosse, algumas gotas delicadas de chuva. Entre os doces beijos e os olhares mais vívidos que jamais havia presenciado, pude sentir o peso que o adeus tentava-lhes impor, conforme os minutos se perdiam em meio às gotas de chuva.
Em um último adeus, senti sobre meus ombros o peso da saudade que apressava-se em castigá-los após a despedida.
Como se tudo não passasse de uma estranha recordação do passado, ligo meu carro e retorno em meu caminho, acompanhando o jovem rapaz que, cada vez mais distante de mim, apressava-se em tomar de volta o caminho para casa.
Wicked Game