quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Hey, John (Short Memories X)

Bonjour, meu amigo! Onde está o seu chalé? Seus carros velozes, seu apartamento de luxo, a sua pista de patinação no gelo. Estou vendo a sua ruína de camarote, e o seu ex-amor mais sorridente que nunca. Fico a pensar: o que ganhou com tudo isso? Mil e um vícios, um manjar estragado, um braço quebrado, e um furo no bolso de sua calça de mendigo. As moscas estão loucas à sua volta. Quem diria, John amado! Sua soberba apenas te quebrou ao meio. O gelo derreteu aos seus pés, sua cerveja esquentou, e o pão à sua frente está embolorado. Qual o seu próximo passo? Sua namorada não lustrará o seu sapato, o seu chofer não te levará a lugar algum, o seu cachorro está morto e a sua luz foi cortada. Renda-se, Johnny. Ninguém se dobrará aos seus pés. Tudo foi mentira!

(Short Memories, Gabriel Derlan)



segunda-feira, 25 de novembro de 2013

One Step Closer (Annie, uma História e um Café - IV)

Leia: Annie, uma História e um Café - I, II e III.
"Annie segura em minha mão, quando todo aquele movimento chega até nós. Sinto-me em um mar de humanos, com toda aquela onda correndo em minha direção. Mas de repente tudo para ao meu redor. O tempo, as pessoas, o tumulto. Aquela dama a quem observava cruza o seu olhar com o meu, e parece saber exatamente o que eu estou pensando."


domingo, 3 de novembro de 2013

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Um velho amigo, e um velho problema: Charlie. (Annie, uma História e um Café - II)

Leia: Annie, uma História e um Café - I

Quando sentei-me à mesa, deu um sorriso e falou:
- O tempo só fez bem para você, Gabriel. Estou acabado, e hoje tenho mais certeza disso. Lembra de mim? Sou Benjamin!

---

domingo, 6 de outubro de 2013

Annie, uma História e um Café - I



(Gabriel Derlan, 1999)

Foram dias de fuga, até encontrar comigo, viajando por uma estrada cheia de plantações de trigo ao redor, mas emoldurada por algumas árvores à beira. Annie estava sentada sob uma dessas árvores, adormecida. A cena chamou a minha atenção. Parei o carro logo à frente. De tão cansada e faminta, não esboçou reação quando peguei-a no colo e a deitei no banco de trás. Quando o carro começou a andar, ela apenas teve forças para pedir: "Não me leve de volta para lá, por favor".

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

O Amor, em outras palavras.

Não basta um "Eu te amo". É necessário o amor. Nem mesmo o beijo mais envolvente do mundo será o melhor, se não houver o amor, ou aquela leve taquicardia, aquele medo de que seja a última vez. Uma paixão por uma aparência física, é como um buquê de rosas. Elas logo murcharão. Mais vale, então, uma paixão pelo que não se vê, mas se sente. É como algo que se planta no tempo certo. Sempre dará bons frutos, se for protegido e cuidado com carinho e apreço. Não se apaixona de verdade pelos olhos verdes, ou castanhos, ou cor-de-mel, mas pelo olhar em si. Se apaixona pelo sorriso, e não pelos dentes brancos e perfeitos. Pelas palavras, e não pela voz. Pelo aconchego, e não pelo corpo avantajado ou em forma. Quando você aprende a amar alguém de verdade, não importa se ela ganhou uns quilos a mais na última semana, se ela está em dias maus, ou simplesmente não se sente conformada com o que vive. Simplesmente, ela se torna a melhor para você. Aprenda isso: um dia, todas elas virarão uma só. É aquele prazer em um momento inigualável, no qual você ergue a sua mão esquerda, mostra a aliança e diz: "fomos feitos um para o outro". Ela, agindo como uma rainha sobre sua vida e você, como alguém que daria a vida para protegê-la. Ela, como tudo o que há de bom em sua volta. Você, como quem correria o mundo apenas para arrancar um sorriso de um rosto tão belo.



"No silêncio você encara o mundo, seus olhos estão gritando para serem ouvidos. Eu quero te conhecer de dentro para fora! Eu vejo tudo o que você quer ser, olho dentro da sua alma olhando de volta pra mim: eu quero te aprender de dentro para fora!"




sábado, 28 de setembro de 2013

Annie (Short Memories IX)

Annie é apenas uma criança. Ela corre para todos os lados, e observa tudo muito quieta. Ela é um anjo, de olhos claros. Voa alto e salta do mesmo precipício todos os dias. Annie é só uma menina doce e sincera, que não tem medo do escuro, nem de monstros, ou de estar sozinha. Ela já está sozinha há séculos, e nem por isso deixou de ser menina.

Quem matou os sonhos de Annie?

Ela observa o nascer e o pôr do sol, porque sabe que existe algo naquele brilho que tem cuidado dela. Annie não tem medo de tempestades. Ao contrário, sorri a cada raio. Cada trovoada e gota de chuva é um espetáculo, uma sinfonia aos seus ouvidos.

Sabe o que a faz sorrir? Um abraço apertado, sincero, e sem aviso, de quem ela menos espera receber algo em troca. Qualquer um sente-se um herói, ao perceber que deu um afago à esta pequena. Ela não precisa de companhia, mas a sua companhia deixa tudo um pouco mais belo. São as suas histórias de criança que fazem a graça de qualquer parque, ou jardim, ou sombra sob uma grande árvore. 

Annie é apenas uma criança. Seus erros são esquecidos dia após dia. O seu sorriso é o mais doce, o seu olhar é sensato. Annie não tem medo de fantasmas, por mais barulhentos que sejam. Ela só quer ter o prazer de terminar o dia em paz, no seu quarto de menina. Amanhã, tudo recomeça.

Annie é um anjo.

(Short Memories, Gabriel Derlan)




sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Here We Go. (Short Memories VIII)

Ele precisa de uma marca de batom no colarinho.

Ela, de um vestido amarrotado.

Ele precisa de um bom motivo para sair do chão.


Ela está louca para tomar um drink.


Ele saiu sem rumo.


Ela espera por um par em um bar de esquina qualquer.

Uma troca de olhares é o suficiente, para um estrago.

Uma boa música é o combustível para a melhor dança de suas vidas.

Um beijo inesquecível no momento certo.

Tudo é um bom motivo para parar o mundo ao redor dos dois. 

Uma noite de amor sela um momento,

que nem ao menos se conhece pelo nome.

No final de tudo, apenas um homem, mais uma vez.

Um homem que acorda no topo de um arranha-céu.

Na sua camisa, um doce perfume de mulher.

Na sua mente, a lembrança do que não se conhece.

Em seu colarinho, uma marca de batom.

Em seu coração, o desconhecido, mais uma vez.



(Short Memories, Gabriel Derlan)





segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Uma Fotografia Escrita (Short Memories VII)

Apenas um velho senhor de suéter xadrez, em tons de marrom, a segurar uma velha foto. Um casal em um altar no dia mais feliz de suas vidas, quem sabe. Ele está observando o contraste desta com o pôr do sol, visto de um velho banco, às margens de um canal. O parque, as árvores, o muro ao redor do parque construído à moda das muretas de Nova York, e o canto dos pássaros, contrastam com a infinidade de prédios e montanhas do outro lado das águas. As marcas do tempo em seu rosto, seu olhar distante, seus cabelos brancos e aquele sorriso tímido, revelam que há muito passado entrelaçado naquela fotografia amarelada. Um velho amor em um belo pôr do sol. Ela prometeu que sempre estaria presente, até mesmo após partir. Bastava fechar os olhos, sentir a brisa suave, o calor aconchegante de um pôr do sol, observar o céu estrelado, ou até mesmo ser tocado pelas gotas suaves de uma chuva de verão para tê-la ao seu lado, mais uma vez.

(Short memories - Gabriel Derlan)




quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Tributo (Short Memories VI)

"Ei, passado. Nunca fugi de você apenas por fugir ou faltar amor. Te amei até demais. Éramos tão jovens! Apenas tive medo. Medo de assumir para todo o mundo que queria fugir contigo para qualquer lugar, que seríamos felizes juntos pra sempre, e que nada poderia nos separar. Ao invés de assumir, resolvi fugir. Tentei acertar a nossa vida tarde demais. Ela havia sido escrita há séculos.

Ah, passado! Você sequer me olha nos olhos. Quem diria! Você está aprendendo a ser odioso como eu fui há tempos atrás. E me fez merecidamente ser visto como canalha, pois tentei roubar seu coração em plena luz. Como fui ingênuo em pensar que você mudaria em cinco minutos, meu querido passado.

Apenas quero que saiba, que se um dia eu te deixei desaparecer, foi para que soubesse o quanto eu amo você. Devo o meu presente à você. E querendo ou não, você é o responsável pelo meu presente desastroso - ou quem sabe, a melhor vida do mundo. Cuide-se em sua corrida, volte com cuidado. Até o próximo café, até mais ver."

(Short Memories - Gabriel Derlan)




quarta-feira, 11 de setembro de 2013

One More Time! (Short Memories V)

Whisky duplo, e sem gelo, por favor. Traga-me um charuto cubano, ou algo tão inusitado quanto. No final das contas, tudo se repetiu. E se repete, o tempo todo. Toda essa insônia, ou indecisão. Este "acordar em uma sarjeta", mas é claro, com o bolso cheio de dinheiro. Mais uma dose por favor! Hoje eu quero encher a cara, afogar as mágoas, a sensatez, o meu bom senso, e tudo o que há de moral. Vou sair cambaleando deste lugar tão nobre - um inferno entre quatro paredes - para pegar meu carro, e arranhar tudo o que estiver ao meu redor: outros carros, viajantes, asfalto, postes. Tudo o que há! Ah, é claro. Traga-me um isqueiro, um fósforo aceso, um molotov, um lança-chamas: Quero queimar os meus pulmões aos gritos, aos cigarros, em meio à toda essa fumaça. Quero viver pouco, deixar belas fotos em um mural, como você. Quero correr no limite, até nada mais em volta ter sentido algum. Francamente! O que estamos fazendo parados? Traga-me mais um duplo, sem gelo! Quero sair tropeçando em palavras, declarar amores e mais amores, dar abraços apertados, dizer "Feliz Ano Novo!", em pleno outono.  Não saio daqui até torrar todo o seu estoque, até deixar-lhe surdo. Mais uma dose de loucura, garçom! Eu quero viver, meu amigo. Eu quero viver! Nem que para isso nada mais faça sentido por aqui. Nem que eu precise ficar com a língua pesada. Meu amigo, hoje é o meu dia. Vamos brindar. Eu apostei toda a minha vida neste jogo, e ganhei. Eu tenho a razão hoje. Whisky duplo e o seu melhor cigarro, por favor!

(Short Memories - Gabriel Derlan)

"Eu sou apenas um homem no meio de um plano complicado. Ninguém pode me mostrar os sinais!"
(Bee Gees, Man in Middle)



terça-feira, 3 de setembro de 2013

Let me Be Your Angel

Ei, menina! Gostaria de pedir uma honra esta noite: deixe-me cuidar de você, deixe-me ser o seu anjo. Há pouco troquei uma vida inteira pelos céus, para poder tê-la comigo o tempo todo. Ganhei uma vida de anjo, para cuidar de você, minha menina. Não olhe mais para os lados: nada mais pode atingi-la agora! Eu estarei aqui, o tempo todo. E quando não me veres, saberás que estou tão grande ao seu lado, que até o mínimo detalhe de mim parecerá gigantesco perto de você, e de qualquer um ao seu redor!

Ei, menina: Deixe-me ser o seu anjo! Carregá-la para todos os lados em meus braços, protegê-la de todo o mal. Troquei tudo na vida para ter esta oportunidade. Trocaria ainda mais, para te dar a vida que mereces! Derrubaria qualquer obstáculo para vê-la feliz.

Dê-me a honra, garota, imploro. Quero ser o seu anjo! Protegê-la de todo o mal, para que a minha volta para casa tenha valido a pena. Deixe-me ser o seu anjo, para guardá-la e amá-la como realmente mereces, e estar perto o tempo todo como sempre prometi, mesmo que não me veja. Dê-me a permissão, minha menina, e cuidarei de você até que a sua volta pra casa nos una, novamente!

(Short Memories, Gabriel Derlan)




segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Old Stories

Estou em um quarto longe de tudo. Uma espécie de refúgio. No canto, um piano de armário com um timbre mágico. Ao lado do piano, uma prateleira de livros jamais lidos. Ao centro, uma vitrola tocando uma sinfonia controversa e perturbadora.

Aqui, por certo, é o meu forte. Fugi para cá desde minha última batalha. Talvez tenha sido ontem a noite, ou há quinze minutos, não sei. Sei que a cada segundo, uma nova batalha surge dentro de mim: Fico ou corro? Assumo ou desisto? São tantas coisas, tantas decisões por segundo, que me forço a fugir para cá, para o meu forte.

Sob os meus pés, um assoalho que trás rangidos a cada passo. Do lado de fora, uma floresta a perder de vista. Sobre minha cabeça, um teto de madeira iluminado por uma lâmpada incandescente. Ao sentar em meu piano, lembrei-me de quantas vezes fugi para cá, e para cada vez, compus uma nova música. Mas relembrá-las me trás à memória as batalhas passadas, e eu sei que já é tarde para voltar e desfazer certas decisões, e muito mais tarde ainda para virar o jogo.

A música que toco agora, se torna suficientemente mágica para reduzir a intensidade da luz, trazer um perfume agradável ao meu esconderijo e uma brisa suave lá fora, e me fazer ver cores e brilhos incomuns em tudo o que há ao meu redor. A intensidade com que os martelos batem nas cordas torna-se viciante. Tudo isso tornou-se um ritual, tudo isso tornou-se um sonho. A harmonia de minhas notas está trazendo um aconchego ao meu corpo de guerreiro, e sinto pela primeira vez em tantos anos a liberdade.

Sinto uma luz chocar-se de repente com o meu rosto, e tudo o que está em volta começar a mover-se. Um vento do sul começa a levar embora as paredes de madeira de meu pequeno habitáculo, mas eu e o piano já nos tornamos um só: nada mais pode parar a minha música! Já não tenho controle sobre meus movimentos, e vejo tudo o que está acontecendo ao redor com um olhar apreensivo. As árvores imensas começam a ser engolidas pela terra e em seguida todo o chão é consumido. Estou agarrado a um piano em meio a um universo azul, um céu, um além. 

Me assombro com a mudança rápida de tudo o que está ao meu redor. Me assombro com a cura tão rápida de tantas feridas e medos da guerra. Tomo coragem, e me liberto do piano, mas não de minha música, que ecoa no vazio. Caio, no meio do além, que começa a tornar-se escuro. Vejo então, o pôr do sol em um mundo sem chão, sem paredes. A noite cai sobre mim, e eu me vejo então sobre uma cama, um doce lar. Sinto que voltei para casa, mais uma vez. Há algo inacabado por aqui, ou alguma recompensa que mereço receber. Ainda não o sei.

Toda a minha certeza é que amanhã será um dia melhor. Serão outras batalhas, outros livros, outros sonhos. Mas sei que amanhã será um dia melhor. Durmam em paz cordas, martelos, livros, pianos, páginas, ouvidos e guerreiros, pois amanhã vocês serão a minha espada, mais uma vez.

(Short Memories, Short Chronicles and Short Stories, Gabriel Derlan)





sábado, 31 de agosto de 2013

Dreaming Awake

Há uma planície ao norte dos meus sonhos. Perturbadora, viciante, ou intrigante, ela se alastra noite após noite, como um clarão em períodos de tempestade. Ao centro dela, aquela mesma dama de meus melhores sonhos e piores pesadelos caminha em minha direção. A cada luar, ela parece maior do que eu. Tem um olhar severo, um temperamento sério e doce, e um lindo sorriso esboçado em curvas delicadas por seu rosto. Seus cabelos, seu olhar e seu sorriso reluzem. A cada noite ela chega mais perto. Já não noto mais o sol, Pois ela age como outra estrela, em brilho, força e tamanho. Tenho medo de cair nas mãos de sua ira, e de seu amor. Tudo porque tenho a plena certeza de que tudo o que é bom está a sua volta, e tudo o  que é mau ao seu derredor. Ela tem o domínio sobre a vida e a morte, sobre meus sonhos e meus pesadelos, sobre meu amor e meu ódio, minhas decisões e fugas. É ela que me domina. Ela tem roubado pedaços de meu coração para alimentar uma paixão insana que nos une a cada dia de uma maneira assustadora. Feitiço ou não, sinto-me dominado por algo que mal sei a origem, mas estou gostando deste amor. Está chegando a hora, mais uma vez, daquela nuvem de fumaça branca com um perfume envolvente dominar este quarto, para que eu volte ao paraíso. Sei que ela estará lá, me esperando, mais uma vez. Caso eu volte para cá, espero lembrar-me de como fazer para reencontrá-la novamente, pois agora este se tornou meu vício. Até mais ver!

(Short Memories and Dreams, Gabriel Derlan)





sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Trigésimo Quinto Sonho

Trigésimo quinto passo, rumo à plataforma de embarque de um trem que me levará ao infinito. Um bom perfume, um sobretudo elegante, e nenhuma bagagem. Faz um frio tremendo por aqui. Em meu relógio, faltam quinze minutos para as oito. Há pouco o sol se pôs, e eu peço a Deus para que amanhã eu possa vê-lo mais uma vez. Meu coração está batendo mais forte, e eu começo a ficar ansioso. Louco, talvez. Entrego meu ticket, e agora tenho a plena certeza de que irei rumo a Sudeste. Entro no meu trem,  e procuro um assento vazio, ao lado de um jornal, como em um sonho da noite passada. O máximo que eu encontro é aquela luz intermitente de fim de vagão, como em todos os livros, sob a qual está uma poltrona menos visada e única. Sento, e percebo que para o meu destino, serei acompanhado apenas de meu bom senso.

É outra noite fria, úmida e incomum. Ao sair da estação de meu destino,  percebo que devo ser o único na rua. Sinto os primeiros pingos de uma chuva delicada baterem em minha cabeça, em meus ombros, e na calçada pela qual estou caminhando. Percebo que meus passos ecoam, e que o ar gelado intimidou todo o mundo. São dez horas, e no fim da rua vejo, mais uma vez, uma linda mulher, a qual paro todas as noites para admirar, sentado em um meio fio. Ela tem uma beleza no mínimo peculiar. Ela está sentada, agora, em uma escrivaninha, na janela do segundo andar de sua casa. Gostaria de saber o título do livro que ela está lendo. Sento neste meio fio noite a noite, como um psicopata, ou apenas um pintor, que admira uma paisagem por longos períodos de tempo, para depois esboçá-la em uma tela com tinta a óleo, e vendê-la com um título sem sentido. 

Pela trigésima quinta vez, ela me olha e sorri, como se eu fosse algum personagem de seus livros. Vejo paz em seus olhos, como na primeira vez. A pureza habita naquele quarto, assim como as mais belas aventuras e quem sabe as mais belas paixões. A maneira pela qual a encontrei será um segredo eterno. Pela trigésima quinta vez, ela levanta-se de sua poltrona, me manda um beijo doce, que aquece a frieza que habita em meu coração, e que ilumina toda sombra que há em meu sorriso. Para esta noite, tenho certeza de que não estou mais só, de que há luz em minha vida, e tenho certeza também que o meu sorriso é verdadeiro. Eu sorrio e me levanto, ao passo que ela afasta-se da sua janela, e após alguns segundos, apaga a luz. Ela adormecerá em lindos sonhos, e eu voltarei para casa, mais uma vez, implorando para que amanhã tudo isso se repita.

Quem sabe, algum dia, eu não consiga fazer parte desta história? Um velho caderno, em um baú de madeira empoeirado, ainda me dirá.

(Short chronicles, Gabriel Derlan)




Um Pessimista, O Estrago (Short Memories - IV)

Sei que estás sozinha esta noite, assim como em todas as outras, assim como todos os dias. Tudo porque você é suficientemente forte para isso. Já estivemos perto o bastante para eu dizer tudo o que eu penso sobre você, mas é tudo muito grande para ser expressado em palavras, ou até mesmo em gestos. Sim, o resultado de tudo seria uma explosão, um estrago. Talvez, pedaços de mim lançados ao vento, como se fossem destruídos por uma espada. Mas fico aqui, a pensar: e se você permitisse que eu estragasse tudo o que há entre nós? Um anel no seu dedo, dias e dias ao seu lado, um amor eterno como o amor mais curto de todo mortal, guerras e mais guerras lado a lado, beijos apaixonados e tudo o mais! Fico aqui, dia após dia, pensando em colocar tudo a perder, até mesmo por que nosso tudo não é nada, absolutamente. Tenho certeza de que seria apenas mais um fracasso, uma ressaca, e quem sabe, uma música de mau gosto. Talvez haja um pote de ouro no final do arco-íris, uma recompensa. Enquanto isso, te vejo feliz, ó nobre, a vagar pelos seus próprios obstáculos, sem mim. Creio que a minha presença seria, no máximo, mais um motivo para você estar só, mais uma vez. Eu amo você, além do comum, acredite.

Até mais ver!

(Short Memories, Gabriel Derlan)



quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Are You There? (Short Memories - III)

Você está aí? Sonhei com você esta noite. Nos reencontramos por dez anos, após dez anos sobre dez anos. Vivemos uma eternidade, voamos alto. A nossa música tocou, e entre beijos e mais beijos fomos felizes. Felizes para sempre, por uma eternidade em dez anos. Felizes por uma noite. Fomos à um mirante, fomos ao cinema, sentamos à beira do mar, assistimos ao luar de Los Angeles. E quando vimos que estava chegando a nossa hora, você me prometeu que nunca me abandonaria. Disse que voltaria logo, e sumiu em meio à neblina, aos raios, às brechas. Me dê um sorriso, uma foto, um desenho, uma frase, um abraço, para que eu te sinta por perto. Mas volte logo, imploro. Apenas peço: não se esqueça de mim!

(Short Memories, Gabriel Derlan)

"Você está aí?
Você consegue me entender?
Você está aí?
Eu não sinto mais você!
Você está aí?
Você vai ceder?
Você está aí?
Se eu desistir,
Câmbio, Desligo."





quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Short Memories - II

Se eu posso voar? Sim, eu posso! A direção é questão de ponto de vista. O método pelo qual desbravarei os ares pode ser trágico. Mas sim, eu consigo voar. Poderia, quem sabe, pular da janela do meu quarto, com toda essa loucura que me cerca. Tudo isso é muito mais fácil do que admitir que sou inconstante. Tudo isso seria muito mais fácil do que admitir que sou louco por você, louco pela sua loucura, mas ao mesmo tempo fujo como um louco, o tempo todo. 

(Short Memories, Gabriel Derlan)




terça-feira, 27 de agosto de 2013

How I Wish You Were Here! (Short Memories - I)

Quando você saiu daqui, tudo virou trevas. As nuvens tamparam o meu céu, e um inverno tenebroso caiu sobre mim. Não vi mais cor em nada que observava, e nem a mais bela sinfonia foi capaz de agradar os meus ouvidos. Logo que você se foi, eu morri. Antes tivesse morrido de verdade, mas morri por dentro, e tudo foi muito pior. Nada era capaz de arrancar de meu rosto um sorriso sequer. A cada passo que você dava, eu percebia que a noite ficava mais assustadora. Hoje eu sinto que você está por perto, e pode chegar a qualquer instante. Um raio de sol, tímido e tênue, entrou pela fresta da minha janela. Sim, ele me contou que a rainha do meu mundo está por perto. Quem mais seria capaz de convencer o próprio sol a vir me consolar? Não importa se estou longe de você há semanas, meses, anos, dias, ou até mesmo minutos. Qualquer segundo longe do brilho do seu olhar, do seu perfume mais precioso, e da sua voz mais doce, é um motivo para me sentir só, mais uma vez. Até logo, meu amor!


(Short Memories, Gabriel Derlan)

"Somos apenas duas almas perdidas
Nadando num aquário
Ano após ano.
Correndo sobre este mesmo velho chão
O que encontramos?
Os mesmos velhos medos.
Queria que você estivesse aqui!"



quarta-feira, 3 de julho de 2013

Secret

Olá, meu amor, olá! Você não sabe como está fazendo falta aqui. Disse que estaria presente o tempo todo, mas aquele seu perfume, que não ficou guardado em minhas roupas, em meus pertences, está na minha memória. O vento bate aqui na varanda, e eu ouço a sua voz nele.

Não, eu não estava louco quando disse que estava apaixonado por você. Tenho certeza da sua existência. Já vi você por aqui. Talvez não fosse o que você queria.  É muito estranho ver você como um passado distante. É terrível ouvi-la pronunciar meu nome de uma maneira disfarçada de impessoal, mas carregada – isso, carregada – de passado.

Estive esperando aqui por você, por uma eternidade. E tudo o que é ilegal torna-se uma aventura. Eu sei, nunca estaremos juntos novamente. Ainda mais agora, que meio mundo já sabe das vezes que fugimos para os nossos mundos, para as nossas histórias em paraísos paralelos. De quando fugíamos da rotina, e eu te levava até em casa, ou simplesmente ficávamos deitados debaixo de uma árvore qualquer, vendo que formato as nuvens teriam. Eu sei, preciso crescer muito para entender que não é esse tipo de coisa que você procurava.

Ah, querida. Mostrei-te todos os precipícios que me rodeavam, e te apresentei todos os meus fantasmas. Escolhi você, mesmo tendo que ser tão secreto. Sabia que poderia pagar com a vida se soubessem que te roubei do meio dos anjos, para ser minha. Para ser o meu anjo.
Espero poder ver-te logo, e sentir pelo menos por mais uma vez, o quão incrível e único é ser secreto.

Até mais ver!

(Gabriel Derlan, 1988)


quarta-feira, 19 de junho de 2013

Rest in Peace

Descanse em paz, nobre guerreiro!

Descanse em paz, você, que foi escravo fiel. Tal qual o Rei fazia com os escravos que jamais deixariam de servir, a tua orelha era furada. Não levante a voz para contestar tanta injúria.

Descanse em paz, velho amigo! Sua música começou a tocar, tão distante.

Talvez tenha sido cedo demais. Talvez tudo isso seja necessário, para que outro nasça em seu lugar.

Descanse em paz, companheiro de todas as horas. Seu coração habita aqui, em meu coração. Certamente chegou o seu momento de se lançar em seus próprios anseios, e vícios, e medos.

Não deu tempo de dizer Adeus. Não há. Não haviam motivos aceitáveis para que você fosse em meu lugar, em minha coragem.

Receba sua coroa, Rei. Tome suas medalhas. Um grande tapete vermelho te espera. Você venceu toda a angústia e agonia, na esperança de haver um prêmio no fim do arco-íris. Havia sim um tesouro, tenho certeza.

É a sua hora, é o nosso tempo!




domingo, 9 de junho de 2013

Um velho personagem. O novo amor. O talvez.

Estou aqui, olhando para todas essas tuas cores. Sonhei contigo há tanto tempo, e hoje estou vendo esse teu sorriso. Perco as palavras na tua frente, sou ofuscado pela tua beleza e, oh céus! Estou apaixonado por alguém que não existe. Ou eu não sei que eu existo.

Tão bela, lindos cabelos loiros, olhos verdes, e um sorriso tímido. Sonho com aqueles olhos brilhantes todas as noites! Gostaria de ser alguém o suficiente para você. Apenas ser notado, não sei. Não sei por que, mas sinto uma dor terrível em meu peito quando você me lembra que somos apenas amigos. É terrível lembrar que estou longe o suficiente, e qualquer passo em falso pode me separar de passar o resto de minha vida ao teu lado.

Olhem para mim, olhos verdes! Quem seria capaz de negar alguém tão perfeita como você, com um temperamento tão sutil, com palavras tão bem medidas, com uma voz tão doce? Oh, criança! Pense em mim, pelo menos um minuto de sua vida; Diga que me ama apenas uma vez. Uma só vez, e eu serei o homem mais feliz da face da terra!

(Gabriel Derlan, 1989)




segunda-feira, 20 de maio de 2013

O Melhor Lugar do Mundo

A janela do terceiro piso oferece uma linda paisagem. Acabo por me paralisar, perplexo, com a mágica destes pensamentos barulhentos que me pegam quando estou ali. O olhar fica distante: há muita coisa escondida nos pensamentos do sujeito quieto que rasteja entre os outros, que não manifesta opinião, que disfarça sua loucura em frases sem sentido, em sorrisos calados, em indiferença.

Já estive em lugares mais altos, em paisagens cheias de vazio, contemplando meu próprio vazio. Aqui não é tão alto. Mas não preciso estar tão longe do chão para refletir, lembrar do que não fiz, e ficar surdo com tantos berros dentro de mim. Eles não me maltratam. Ao contrário, fazem sorrir por dentro. Sorrir como sorri naquele abraço às 7 da manhã no meio da avenida. Ou a cada vez que alguém cantava qualquer coisa, a me provocar.

A música fica na cabeça quando eu a ouço, todas as vezes. Ela ainda vai me carregar a um passado que eu quero reviver por alguns minutos. Foram bons tempos!




sexta-feira, 26 de abril de 2013

And I Could Be Gone Today

Sim, eu vi o meu amor ontem a noite, e ela estava incrivelmente perfeita. Sim, ela estava linda. Me cativava com aquele sorriso arrebatador segundo após segundo, e aquela pose constante de dama me deixava desconsertado.

Era como em um sonho. Era um sonho? Não sei. Eu vi o meu amor! Já estamos tão longe agora, e estou com a sensação de que foi a última vez, como tive todas as outras vezes.

Ela passou tão longe, como em um sonho, como se não me conhecesse. Como se me amasse, mas não soubesse quem sou. Como se tivéssemos passado a vida inteira juntos, mas no meio do caminho houvéssemos acordado de um sonho.

Sim, ontem a noite eu vi o meu amor, tão linda, tão bela! Precisei partir, como se fosse a última vez. Precisei me despedir de seus doces beijos que nunca existiram, e de sua tênue voz, que não passava de ilusão. Nunca é cedo para dizer adeus. Sei que nos veremos em breve, ou não.

Posso ter medo, como das outras vezes, mas eu vi o meu amor mais uma vez. Não me contento em ser a última vez, não me contento em ser o adeus.

Até logo, meu tudo.



quarta-feira, 17 de abril de 2013

Hey, Wait!

Acordei em um dia incomum. Chove muito fora do apartamento. Chove muito dentro de minha cabeça. Meus fantasmas reclamam de frio. Terrível demais ler histórias sem sucesso? Terrível demais acordar de um mundo perfeito? Talvez sim, para muitos.

Sento em minha poltrona, com uma dose de Whisky na mão, e um charuto aceso na escrivaninha e começo a perceber que nada é mais desolador do que não se ver feliz. Aquela chuva me deixou um pouco mais longe de mim hoje. 

Olho para o sofá, e percebo que ninguém pode ficar ali comigo. Ninguém está aqui para isso. Boas lembranças é que não faltam, daquele amor proibido, daquele beijo roubado, daquelas declarações sinceras, nada planejado. Sim, senti falta, hoje, de amar, ser amado, de ter um "tudo".

Até mais ver.





terça-feira, 26 de março de 2013

Don't Forget Me.


"Posso não estar bem um dia.



Pode ser que um dia eu esteja tão mal, que a sua única alternativa seja sentar ao meu lado, e servir um copo do que eu bebo para você também. Sentar ao meu lado, e servir-se de toda a minha injúria, toda a minha loucura, toda a minha solidão, meu inconformismo, meu cansaço. Seu amor chegaria a este ponto?

Pode ser que um dia, tudo o que eu precise seja um abraço. Minha cara fechada e meu aparente mau humor podem ser sinais disso. Estaria mesmo disposta a enfrentar-me desta forma? 

Pode ser que um dia eu precise apenas de um “eu te amo”. Amar-me-ia sob qualquer condição? 

Pode ser que eu não te traga flores, ou presentes, anéis, colares, ou tickets para um cinema. Mas posso te dar um sorriso, ou contar algo bom. Falas a verdade quando diz que nada espera de mim? 

Pode ser que não encontre em mim um jeito de amar como qualquer outro visto por aí. 

Estás mesmo disposta a descobrir algo em mim para poder amar? 

O amor é cruel, mas eu amo o amor. Venha e voe comigo, para o alto, para longe, e desperdice um pouco do seu tempo tentando descobrir se vale a pena. Além disso, tudo fica bem, se nós dois quisermos.

A única coisa que eu te peço, é que não se esqueça de mim."



sábado, 9 de março de 2013

Drink and Cigarette




Acordo e percebo que dormi com a cabeça sobre o teclado do computador. O gelo que estava dentro do copo derreteu, e o Whisky que ali estava ficou aguado, obviamente. Gostaria muito de lembrar o que escrevia. Porém a forte dor de cabeça e o computador sem energia impedem meu raciocínio.

Me impressiono com a bagunça na qual transformei meu apartamento. Tento lembrar como quebrei minha mesa de centro, ou derrubei tantos livros da prateleira. As três garrafas vazias me fazem entender que bebi demais. Passo a mão no bolso e pego um cigarro. Me dirijo a varanda, sento, e começo a fumar. Não com a pressa de todo fumante. Só me restaram três, por isso desfruto calmamente do que eu acabo de acender.

O tempo está chuvoso, e uma garoa pousa delicadamente sobre a rua. Me chama a atenção a cor do céu, que está embelezado pelo sol das cinco da tarde, alternando entre nuvens mais espessas e mais tênues. Desta forma, o céu se torna ora laranjado, ora cinzento. 

Levanto-me, sigo até a geladeira e pego novamente um Whisky. Renovo o gelo do copo, ligo o computador na tomada, e sento novamente. Aqui estou, digitando. Acendo outro cigarro, e penso que muitos reprovam esta atitude suicida. 

Qual seria então o limite do imoral? Para mim, são minhas quatro paredes. Me sinto anestesiado pelo álcool e a nicotina. Me sinto feliz por todas essas dores emocionais sumirem de forma tão prazerosa. 

Começo a lembrar de todos os planos que fiz na juventude. Ora um profissional da saúde, ora músico, ora bombeiro. O que importa é a ilusão. Certa amiga me disse  uma noite - há muitos anos, em um apartamento durante um trabalho de curso - que eu escrevia muito bem. Gostaria de saber onde ela se encontra. Talvez, cuidando de cavalos.

Junto forças então, para me levantar e pegar a estrada. Tentar partir para Destino, ou talvez para Além. Talvez visitar um velho amor em algo parecido com Ouro Velho. Ultimamente o meu destino não importa. O importante é que descobri a tempo uma felicidade que não encontrei em um mundo capitalista, cujas ideias apodrecem em um câncer mundano de proporções catastróficas. Ainda há tempo de viver a liberdade.

Devaneios a parte, percebo que anoiteceu. Uma noite úmida e fria, propícia para um encontro de amor. Tenho dúvidas se devo me dedicar a dar partida no meu carro ou saio a pé, pego um bonde e vou ao outro lado da cidade. Tenho certeza que alguém está me esperando por lá, há anos. 

Uma ducha quente, uma roupa elegante e um bom perfume. Perfume que já usei em ótimas ocasiões. Tomado pela superstição, não poupo esta raridade para hoje.

Algum dia, me dedico a contar-lhe se as coisas ocorreram como planejei, e se perfumes são mesmo decisivos para uma noite perfeita. Peço licença, pois a hora chegou. Todo momento é o momento de ser o momento mais feliz. Cabe a mim a decisão de manter o momento feliz.

Até o logo,
até o talvez,
até o mais ver.






sexta-feira, 8 de março de 2013

Just Souvenirs



Um menino em
um dia nublado, frio.
Só um menino.
Frio de inverno, um
estacionamento enorme,
Sete da Manhã. 
Não é só um momento.
Se repete quase todas as manhãs.
Um menino ao telefone.
Caminha de lado ao
outro no enorme estacionamento.
Um menino sorri
como bobo ao
ouvir a voz de sua amada.
Um menino que
consegue ficar
suficientemente triste
ao saber
que nenhuma das
duas famílias quer o namoro.
Um menino que
não entende o fato
de ela desistir tão fácil.
Na janela do
ônibus ele está
com o olhar distante.
Na janela do ônibus,
ele acompanha as gotas
da chuva que
escorrem do lado de
fora.
Não, não foi
para sempre.
Lembra de uma
noite em que seria 
sua última noite do ano 
juntos, na qual ele 
abre um diário,
para escrever uma
linda história de
amor.
Ele a entrega
um colar, com
as iniciais de
Nunca
Esqueça
O
Quanto
Eu
Amo
Você.
A vida é
uma máquina de
lembranças.
E a vida vai acontecendo.