sexta-feira, 8 de julho de 2016

A Passos Largos



Quando a vejo partir, pergunto-me incessantemente:
- Por que a pressa?

Já não sei mais qual de nós dois foge da nossa história, como se isto realmente precisasse acontecer. Mas para que tanta pressa? Tenho a impressão de que você se vai aos poucos, e que eu morro tentando fugir para evitar te perder. Mas até quando?

Preparo um bom café, sento-me em uma velha cadeira na varanda do apartamento e respiro aquele ar úmido e babélico após uma forte tempestade de um inverno que tarda a chegar. Acendo um cigarro, mesmo sabendo que não deveria fazê-lo. Confesso que, se eu fosse eu, esperaria para sempre.

Releio todas as nossas memórias naquela fumaça ao expirar, e já preciso fazer um certo esforço para sentir sua falta. Sinto que, aos poucos, minha rotina me fará acostumar à sua ausência. Mas qual é a pressa?

Ao passo que o pouco de café que restou esfria e que o que sobrou do cigarro está no cinzeiro, percebo que este é o momento certo para descer as escadas, e dirigir com os punhos firmes ao volante, até livrar-me de tudo isso.

Quando vejo que talvez eu tenha dado o primeiro passo, sussurro a mim mesmo:
- Apenas não me culpe.

Se ao menos nós fôssemos nada!