Lá dentro está a mais terrível história de amor, escrita a mão em um livro com palavras bem colocadas e uma caligrafia cuidadosa, como se alguém algum dia tivesse a coragem de tentar entendê-lo. Ele está dentro de um baú de madeira, junto a tantas cartas velhas, algumas letras de música e, não menos importante, algumas fotos.
Ele está lá, fechado. Mas as vezes é como se, em um sussurro, pedisse para sair. Sair, conhecer o mundo, e ser conhecido por ele. Saber que dentro dele há um resto de cheiro de café com um bom perfume e uma promessa de nunca esquecer. Porque, afinal, você teria prometido nunca esquecer?
E quando olho, já estou sendo tomado por aquele aroma inconfundível, que se mistura a minha nostalgia e lembra um determinado perfume impregnado ao casaco emprestado em uma noite fria. Seria a mais pura definição do impossível dizer que eu olharia para o lado oposto e tentaria me esconder disso tudo, mas já é tarde.
Me arrasto para lá, como se tudo o que pesa em mim já fossem toneladas. Abro aquela porta, arrasto o baú para o lado de fora e, como o pior dos adictos, começo a folhear tudo o que está por ali. Carta por carta, história por história, foto por foto. E como em uma roleta russa, aguardo o momento em que aquela foto predileta irá aparecer e fatalmente me intoxicar.
Eu sei que, no fundo, você está lá.
É como voltar no tempo. Alguns segundos, quem sabe, e eu estaria prestes a encontrá-la. Alguns minutos, e eu estaria abrindo o velho baú. Algumas horas, e eu estaria olhando meu rosto no espelho, e admirando a harmonia da assimetria do meu rosto ao amanhecer. Alguns anos e eu, mais uma vez, prometendo não esquecê-la.