segunda-feira, 30 de setembro de 2013

O Amor, em outras palavras.

Não basta um "Eu te amo". É necessário o amor. Nem mesmo o beijo mais envolvente do mundo será o melhor, se não houver o amor, ou aquela leve taquicardia, aquele medo de que seja a última vez. Uma paixão por uma aparência física, é como um buquê de rosas. Elas logo murcharão. Mais vale, então, uma paixão pelo que não se vê, mas se sente. É como algo que se planta no tempo certo. Sempre dará bons frutos, se for protegido e cuidado com carinho e apreço. Não se apaixona de verdade pelos olhos verdes, ou castanhos, ou cor-de-mel, mas pelo olhar em si. Se apaixona pelo sorriso, e não pelos dentes brancos e perfeitos. Pelas palavras, e não pela voz. Pelo aconchego, e não pelo corpo avantajado ou em forma. Quando você aprende a amar alguém de verdade, não importa se ela ganhou uns quilos a mais na última semana, se ela está em dias maus, ou simplesmente não se sente conformada com o que vive. Simplesmente, ela se torna a melhor para você. Aprenda isso: um dia, todas elas virarão uma só. É aquele prazer em um momento inigualável, no qual você ergue a sua mão esquerda, mostra a aliança e diz: "fomos feitos um para o outro". Ela, agindo como uma rainha sobre sua vida e você, como alguém que daria a vida para protegê-la. Ela, como tudo o que há de bom em sua volta. Você, como quem correria o mundo apenas para arrancar um sorriso de um rosto tão belo.



"No silêncio você encara o mundo, seus olhos estão gritando para serem ouvidos. Eu quero te conhecer de dentro para fora! Eu vejo tudo o que você quer ser, olho dentro da sua alma olhando de volta pra mim: eu quero te aprender de dentro para fora!"




sábado, 28 de setembro de 2013

Annie (Short Memories IX)

Annie é apenas uma criança. Ela corre para todos os lados, e observa tudo muito quieta. Ela é um anjo, de olhos claros. Voa alto e salta do mesmo precipício todos os dias. Annie é só uma menina doce e sincera, que não tem medo do escuro, nem de monstros, ou de estar sozinha. Ela já está sozinha há séculos, e nem por isso deixou de ser menina.

Quem matou os sonhos de Annie?

Ela observa o nascer e o pôr do sol, porque sabe que existe algo naquele brilho que tem cuidado dela. Annie não tem medo de tempestades. Ao contrário, sorri a cada raio. Cada trovoada e gota de chuva é um espetáculo, uma sinfonia aos seus ouvidos.

Sabe o que a faz sorrir? Um abraço apertado, sincero, e sem aviso, de quem ela menos espera receber algo em troca. Qualquer um sente-se um herói, ao perceber que deu um afago à esta pequena. Ela não precisa de companhia, mas a sua companhia deixa tudo um pouco mais belo. São as suas histórias de criança que fazem a graça de qualquer parque, ou jardim, ou sombra sob uma grande árvore. 

Annie é apenas uma criança. Seus erros são esquecidos dia após dia. O seu sorriso é o mais doce, o seu olhar é sensato. Annie não tem medo de fantasmas, por mais barulhentos que sejam. Ela só quer ter o prazer de terminar o dia em paz, no seu quarto de menina. Amanhã, tudo recomeça.

Annie é um anjo.

(Short Memories, Gabriel Derlan)




sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Here We Go. (Short Memories VIII)

Ele precisa de uma marca de batom no colarinho.

Ela, de um vestido amarrotado.

Ele precisa de um bom motivo para sair do chão.


Ela está louca para tomar um drink.


Ele saiu sem rumo.


Ela espera por um par em um bar de esquina qualquer.

Uma troca de olhares é o suficiente, para um estrago.

Uma boa música é o combustível para a melhor dança de suas vidas.

Um beijo inesquecível no momento certo.

Tudo é um bom motivo para parar o mundo ao redor dos dois. 

Uma noite de amor sela um momento,

que nem ao menos se conhece pelo nome.

No final de tudo, apenas um homem, mais uma vez.

Um homem que acorda no topo de um arranha-céu.

Na sua camisa, um doce perfume de mulher.

Na sua mente, a lembrança do que não se conhece.

Em seu colarinho, uma marca de batom.

Em seu coração, o desconhecido, mais uma vez.



(Short Memories, Gabriel Derlan)





segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Uma Fotografia Escrita (Short Memories VII)

Apenas um velho senhor de suéter xadrez, em tons de marrom, a segurar uma velha foto. Um casal em um altar no dia mais feliz de suas vidas, quem sabe. Ele está observando o contraste desta com o pôr do sol, visto de um velho banco, às margens de um canal. O parque, as árvores, o muro ao redor do parque construído à moda das muretas de Nova York, e o canto dos pássaros, contrastam com a infinidade de prédios e montanhas do outro lado das águas. As marcas do tempo em seu rosto, seu olhar distante, seus cabelos brancos e aquele sorriso tímido, revelam que há muito passado entrelaçado naquela fotografia amarelada. Um velho amor em um belo pôr do sol. Ela prometeu que sempre estaria presente, até mesmo após partir. Bastava fechar os olhos, sentir a brisa suave, o calor aconchegante de um pôr do sol, observar o céu estrelado, ou até mesmo ser tocado pelas gotas suaves de uma chuva de verão para tê-la ao seu lado, mais uma vez.

(Short memories - Gabriel Derlan)




quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Tributo (Short Memories VI)

"Ei, passado. Nunca fugi de você apenas por fugir ou faltar amor. Te amei até demais. Éramos tão jovens! Apenas tive medo. Medo de assumir para todo o mundo que queria fugir contigo para qualquer lugar, que seríamos felizes juntos pra sempre, e que nada poderia nos separar. Ao invés de assumir, resolvi fugir. Tentei acertar a nossa vida tarde demais. Ela havia sido escrita há séculos.

Ah, passado! Você sequer me olha nos olhos. Quem diria! Você está aprendendo a ser odioso como eu fui há tempos atrás. E me fez merecidamente ser visto como canalha, pois tentei roubar seu coração em plena luz. Como fui ingênuo em pensar que você mudaria em cinco minutos, meu querido passado.

Apenas quero que saiba, que se um dia eu te deixei desaparecer, foi para que soubesse o quanto eu amo você. Devo o meu presente à você. E querendo ou não, você é o responsável pelo meu presente desastroso - ou quem sabe, a melhor vida do mundo. Cuide-se em sua corrida, volte com cuidado. Até o próximo café, até mais ver."

(Short Memories - Gabriel Derlan)




quarta-feira, 11 de setembro de 2013

One More Time! (Short Memories V)

Whisky duplo, e sem gelo, por favor. Traga-me um charuto cubano, ou algo tão inusitado quanto. No final das contas, tudo se repetiu. E se repete, o tempo todo. Toda essa insônia, ou indecisão. Este "acordar em uma sarjeta", mas é claro, com o bolso cheio de dinheiro. Mais uma dose por favor! Hoje eu quero encher a cara, afogar as mágoas, a sensatez, o meu bom senso, e tudo o que há de moral. Vou sair cambaleando deste lugar tão nobre - um inferno entre quatro paredes - para pegar meu carro, e arranhar tudo o que estiver ao meu redor: outros carros, viajantes, asfalto, postes. Tudo o que há! Ah, é claro. Traga-me um isqueiro, um fósforo aceso, um molotov, um lança-chamas: Quero queimar os meus pulmões aos gritos, aos cigarros, em meio à toda essa fumaça. Quero viver pouco, deixar belas fotos em um mural, como você. Quero correr no limite, até nada mais em volta ter sentido algum. Francamente! O que estamos fazendo parados? Traga-me mais um duplo, sem gelo! Quero sair tropeçando em palavras, declarar amores e mais amores, dar abraços apertados, dizer "Feliz Ano Novo!", em pleno outono.  Não saio daqui até torrar todo o seu estoque, até deixar-lhe surdo. Mais uma dose de loucura, garçom! Eu quero viver, meu amigo. Eu quero viver! Nem que para isso nada mais faça sentido por aqui. Nem que eu precise ficar com a língua pesada. Meu amigo, hoje é o meu dia. Vamos brindar. Eu apostei toda a minha vida neste jogo, e ganhei. Eu tenho a razão hoje. Whisky duplo e o seu melhor cigarro, por favor!

(Short Memories - Gabriel Derlan)

"Eu sou apenas um homem no meio de um plano complicado. Ninguém pode me mostrar os sinais!"
(Bee Gees, Man in Middle)



terça-feira, 3 de setembro de 2013

Let me Be Your Angel

Ei, menina! Gostaria de pedir uma honra esta noite: deixe-me cuidar de você, deixe-me ser o seu anjo. Há pouco troquei uma vida inteira pelos céus, para poder tê-la comigo o tempo todo. Ganhei uma vida de anjo, para cuidar de você, minha menina. Não olhe mais para os lados: nada mais pode atingi-la agora! Eu estarei aqui, o tempo todo. E quando não me veres, saberás que estou tão grande ao seu lado, que até o mínimo detalhe de mim parecerá gigantesco perto de você, e de qualquer um ao seu redor!

Ei, menina: Deixe-me ser o seu anjo! Carregá-la para todos os lados em meus braços, protegê-la de todo o mal. Troquei tudo na vida para ter esta oportunidade. Trocaria ainda mais, para te dar a vida que mereces! Derrubaria qualquer obstáculo para vê-la feliz.

Dê-me a honra, garota, imploro. Quero ser o seu anjo! Protegê-la de todo o mal, para que a minha volta para casa tenha valido a pena. Deixe-me ser o seu anjo, para guardá-la e amá-la como realmente mereces, e estar perto o tempo todo como sempre prometi, mesmo que não me veja. Dê-me a permissão, minha menina, e cuidarei de você até que a sua volta pra casa nos una, novamente!

(Short Memories, Gabriel Derlan)




segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Old Stories

Estou em um quarto longe de tudo. Uma espécie de refúgio. No canto, um piano de armário com um timbre mágico. Ao lado do piano, uma prateleira de livros jamais lidos. Ao centro, uma vitrola tocando uma sinfonia controversa e perturbadora.

Aqui, por certo, é o meu forte. Fugi para cá desde minha última batalha. Talvez tenha sido ontem a noite, ou há quinze minutos, não sei. Sei que a cada segundo, uma nova batalha surge dentro de mim: Fico ou corro? Assumo ou desisto? São tantas coisas, tantas decisões por segundo, que me forço a fugir para cá, para o meu forte.

Sob os meus pés, um assoalho que trás rangidos a cada passo. Do lado de fora, uma floresta a perder de vista. Sobre minha cabeça, um teto de madeira iluminado por uma lâmpada incandescente. Ao sentar em meu piano, lembrei-me de quantas vezes fugi para cá, e para cada vez, compus uma nova música. Mas relembrá-las me trás à memória as batalhas passadas, e eu sei que já é tarde para voltar e desfazer certas decisões, e muito mais tarde ainda para virar o jogo.

A música que toco agora, se torna suficientemente mágica para reduzir a intensidade da luz, trazer um perfume agradável ao meu esconderijo e uma brisa suave lá fora, e me fazer ver cores e brilhos incomuns em tudo o que há ao meu redor. A intensidade com que os martelos batem nas cordas torna-se viciante. Tudo isso tornou-se um ritual, tudo isso tornou-se um sonho. A harmonia de minhas notas está trazendo um aconchego ao meu corpo de guerreiro, e sinto pela primeira vez em tantos anos a liberdade.

Sinto uma luz chocar-se de repente com o meu rosto, e tudo o que está em volta começar a mover-se. Um vento do sul começa a levar embora as paredes de madeira de meu pequeno habitáculo, mas eu e o piano já nos tornamos um só: nada mais pode parar a minha música! Já não tenho controle sobre meus movimentos, e vejo tudo o que está acontecendo ao redor com um olhar apreensivo. As árvores imensas começam a ser engolidas pela terra e em seguida todo o chão é consumido. Estou agarrado a um piano em meio a um universo azul, um céu, um além. 

Me assombro com a mudança rápida de tudo o que está ao meu redor. Me assombro com a cura tão rápida de tantas feridas e medos da guerra. Tomo coragem, e me liberto do piano, mas não de minha música, que ecoa no vazio. Caio, no meio do além, que começa a tornar-se escuro. Vejo então, o pôr do sol em um mundo sem chão, sem paredes. A noite cai sobre mim, e eu me vejo então sobre uma cama, um doce lar. Sinto que voltei para casa, mais uma vez. Há algo inacabado por aqui, ou alguma recompensa que mereço receber. Ainda não o sei.

Toda a minha certeza é que amanhã será um dia melhor. Serão outras batalhas, outros livros, outros sonhos. Mas sei que amanhã será um dia melhor. Durmam em paz cordas, martelos, livros, pianos, páginas, ouvidos e guerreiros, pois amanhã vocês serão a minha espada, mais uma vez.

(Short Memories, Short Chronicles and Short Stories, Gabriel Derlan)