sábado, 31 de agosto de 2013

Dreaming Awake

Há uma planície ao norte dos meus sonhos. Perturbadora, viciante, ou intrigante, ela se alastra noite após noite, como um clarão em períodos de tempestade. Ao centro dela, aquela mesma dama de meus melhores sonhos e piores pesadelos caminha em minha direção. A cada luar, ela parece maior do que eu. Tem um olhar severo, um temperamento sério e doce, e um lindo sorriso esboçado em curvas delicadas por seu rosto. Seus cabelos, seu olhar e seu sorriso reluzem. A cada noite ela chega mais perto. Já não noto mais o sol, Pois ela age como outra estrela, em brilho, força e tamanho. Tenho medo de cair nas mãos de sua ira, e de seu amor. Tudo porque tenho a plena certeza de que tudo o que é bom está a sua volta, e tudo o  que é mau ao seu derredor. Ela tem o domínio sobre a vida e a morte, sobre meus sonhos e meus pesadelos, sobre meu amor e meu ódio, minhas decisões e fugas. É ela que me domina. Ela tem roubado pedaços de meu coração para alimentar uma paixão insana que nos une a cada dia de uma maneira assustadora. Feitiço ou não, sinto-me dominado por algo que mal sei a origem, mas estou gostando deste amor. Está chegando a hora, mais uma vez, daquela nuvem de fumaça branca com um perfume envolvente dominar este quarto, para que eu volte ao paraíso. Sei que ela estará lá, me esperando, mais uma vez. Caso eu volte para cá, espero lembrar-me de como fazer para reencontrá-la novamente, pois agora este se tornou meu vício. Até mais ver!

(Short Memories and Dreams, Gabriel Derlan)





sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Trigésimo Quinto Sonho

Trigésimo quinto passo, rumo à plataforma de embarque de um trem que me levará ao infinito. Um bom perfume, um sobretudo elegante, e nenhuma bagagem. Faz um frio tremendo por aqui. Em meu relógio, faltam quinze minutos para as oito. Há pouco o sol se pôs, e eu peço a Deus para que amanhã eu possa vê-lo mais uma vez. Meu coração está batendo mais forte, e eu começo a ficar ansioso. Louco, talvez. Entrego meu ticket, e agora tenho a plena certeza de que irei rumo a Sudeste. Entro no meu trem,  e procuro um assento vazio, ao lado de um jornal, como em um sonho da noite passada. O máximo que eu encontro é aquela luz intermitente de fim de vagão, como em todos os livros, sob a qual está uma poltrona menos visada e única. Sento, e percebo que para o meu destino, serei acompanhado apenas de meu bom senso.

É outra noite fria, úmida e incomum. Ao sair da estação de meu destino,  percebo que devo ser o único na rua. Sinto os primeiros pingos de uma chuva delicada baterem em minha cabeça, em meus ombros, e na calçada pela qual estou caminhando. Percebo que meus passos ecoam, e que o ar gelado intimidou todo o mundo. São dez horas, e no fim da rua vejo, mais uma vez, uma linda mulher, a qual paro todas as noites para admirar, sentado em um meio fio. Ela tem uma beleza no mínimo peculiar. Ela está sentada, agora, em uma escrivaninha, na janela do segundo andar de sua casa. Gostaria de saber o título do livro que ela está lendo. Sento neste meio fio noite a noite, como um psicopata, ou apenas um pintor, que admira uma paisagem por longos períodos de tempo, para depois esboçá-la em uma tela com tinta a óleo, e vendê-la com um título sem sentido. 

Pela trigésima quinta vez, ela me olha e sorri, como se eu fosse algum personagem de seus livros. Vejo paz em seus olhos, como na primeira vez. A pureza habita naquele quarto, assim como as mais belas aventuras e quem sabe as mais belas paixões. A maneira pela qual a encontrei será um segredo eterno. Pela trigésima quinta vez, ela levanta-se de sua poltrona, me manda um beijo doce, que aquece a frieza que habita em meu coração, e que ilumina toda sombra que há em meu sorriso. Para esta noite, tenho certeza de que não estou mais só, de que há luz em minha vida, e tenho certeza também que o meu sorriso é verdadeiro. Eu sorrio e me levanto, ao passo que ela afasta-se da sua janela, e após alguns segundos, apaga a luz. Ela adormecerá em lindos sonhos, e eu voltarei para casa, mais uma vez, implorando para que amanhã tudo isso se repita.

Quem sabe, algum dia, eu não consiga fazer parte desta história? Um velho caderno, em um baú de madeira empoeirado, ainda me dirá.

(Short chronicles, Gabriel Derlan)




Um Pessimista, O Estrago (Short Memories - IV)

Sei que estás sozinha esta noite, assim como em todas as outras, assim como todos os dias. Tudo porque você é suficientemente forte para isso. Já estivemos perto o bastante para eu dizer tudo o que eu penso sobre você, mas é tudo muito grande para ser expressado em palavras, ou até mesmo em gestos. Sim, o resultado de tudo seria uma explosão, um estrago. Talvez, pedaços de mim lançados ao vento, como se fossem destruídos por uma espada. Mas fico aqui, a pensar: e se você permitisse que eu estragasse tudo o que há entre nós? Um anel no seu dedo, dias e dias ao seu lado, um amor eterno como o amor mais curto de todo mortal, guerras e mais guerras lado a lado, beijos apaixonados e tudo o mais! Fico aqui, dia após dia, pensando em colocar tudo a perder, até mesmo por que nosso tudo não é nada, absolutamente. Tenho certeza de que seria apenas mais um fracasso, uma ressaca, e quem sabe, uma música de mau gosto. Talvez haja um pote de ouro no final do arco-íris, uma recompensa. Enquanto isso, te vejo feliz, ó nobre, a vagar pelos seus próprios obstáculos, sem mim. Creio que a minha presença seria, no máximo, mais um motivo para você estar só, mais uma vez. Eu amo você, além do comum, acredite.

Até mais ver!

(Short Memories, Gabriel Derlan)



quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Are You There? (Short Memories - III)

Você está aí? Sonhei com você esta noite. Nos reencontramos por dez anos, após dez anos sobre dez anos. Vivemos uma eternidade, voamos alto. A nossa música tocou, e entre beijos e mais beijos fomos felizes. Felizes para sempre, por uma eternidade em dez anos. Felizes por uma noite. Fomos à um mirante, fomos ao cinema, sentamos à beira do mar, assistimos ao luar de Los Angeles. E quando vimos que estava chegando a nossa hora, você me prometeu que nunca me abandonaria. Disse que voltaria logo, e sumiu em meio à neblina, aos raios, às brechas. Me dê um sorriso, uma foto, um desenho, uma frase, um abraço, para que eu te sinta por perto. Mas volte logo, imploro. Apenas peço: não se esqueça de mim!

(Short Memories, Gabriel Derlan)

"Você está aí?
Você consegue me entender?
Você está aí?
Eu não sinto mais você!
Você está aí?
Você vai ceder?
Você está aí?
Se eu desistir,
Câmbio, Desligo."





quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Short Memories - II

Se eu posso voar? Sim, eu posso! A direção é questão de ponto de vista. O método pelo qual desbravarei os ares pode ser trágico. Mas sim, eu consigo voar. Poderia, quem sabe, pular da janela do meu quarto, com toda essa loucura que me cerca. Tudo isso é muito mais fácil do que admitir que sou inconstante. Tudo isso seria muito mais fácil do que admitir que sou louco por você, louco pela sua loucura, mas ao mesmo tempo fujo como um louco, o tempo todo. 

(Short Memories, Gabriel Derlan)




terça-feira, 27 de agosto de 2013

How I Wish You Were Here! (Short Memories - I)

Quando você saiu daqui, tudo virou trevas. As nuvens tamparam o meu céu, e um inverno tenebroso caiu sobre mim. Não vi mais cor em nada que observava, e nem a mais bela sinfonia foi capaz de agradar os meus ouvidos. Logo que você se foi, eu morri. Antes tivesse morrido de verdade, mas morri por dentro, e tudo foi muito pior. Nada era capaz de arrancar de meu rosto um sorriso sequer. A cada passo que você dava, eu percebia que a noite ficava mais assustadora. Hoje eu sinto que você está por perto, e pode chegar a qualquer instante. Um raio de sol, tímido e tênue, entrou pela fresta da minha janela. Sim, ele me contou que a rainha do meu mundo está por perto. Quem mais seria capaz de convencer o próprio sol a vir me consolar? Não importa se estou longe de você há semanas, meses, anos, dias, ou até mesmo minutos. Qualquer segundo longe do brilho do seu olhar, do seu perfume mais precioso, e da sua voz mais doce, é um motivo para me sentir só, mais uma vez. Até logo, meu amor!


(Short Memories, Gabriel Derlan)

"Somos apenas duas almas perdidas
Nadando num aquário
Ano após ano.
Correndo sobre este mesmo velho chão
O que encontramos?
Os mesmos velhos medos.
Queria que você estivesse aqui!"