Eles todos tinham razão. Desde o nascer do sol até a hora em
que ele se põe trazendo esse vazio imenso, tenho pensado nisso. Olhando o
reflexo dos faróis dos carros - que gradativamente se acendem com o cair da
noite – no asfalto molhado desta avenida, lembro quantas vezes eu neguei os
rumores de que estaria apaixonado por você. Via o seu sorriso e era devorado e
morto aos poucos por tanta doçura. Ouvia a sua voz e viajava por diversos
mundos que não o meu, pois era o que mais me fazia feliz. Mantinha-me firme em
minha estupidez, resistindo ao amor que todos eles diziam que você tinha por
mim. Eles tinham toda a razão: eu de fato estava louco por você! Correr por
horas nas estradas tortuosas até encontrar sua casa era o que eu mais amava
fazer. Por um pretexto qualquer, te visitava e me despedia com dor e culpa,
porque a minha real vontade era nunca mais deixa-la só. Você tinha razão em
seus jogos de sorte, ao planejar apostar pelo menos uma carta boa em mim. Eles
estavam certos: eu amava você como ninguém mais o faria, acredite. Um amor tão
grande e intenso e verdadeiro que seria capaz de me convencer a deixa-la ir, pelo
simples fato de a sua felicidade ser o suficiente para me fazer feliz.
(Short Memories, Gabriel Derlan)