segunda-feira, 31 de março de 2014

Where Are You Now? (Short Memories - XIV)


Eles todos tinham razão. Desde o nascer do sol até a hora em que ele se põe trazendo esse vazio imenso, tenho pensado nisso. Olhando o reflexo dos faróis dos carros - que gradativamente se acendem com o cair da noite – no asfalto molhado desta avenida, lembro quantas vezes eu neguei os rumores de que estaria apaixonado por você. Via o seu sorriso e era devorado e morto aos poucos por tanta doçura. Ouvia a sua voz e viajava por diversos mundos que não o meu, pois era o que mais me fazia feliz. Mantinha-me firme em minha estupidez, resistindo ao amor que todos eles diziam que você tinha por mim. Eles tinham toda a razão: eu de fato estava louco por você! Correr por horas nas estradas tortuosas até encontrar sua casa era o que eu mais amava fazer. Por um pretexto qualquer, te visitava e me despedia com dor e culpa, porque a minha real vontade era nunca mais deixa-la só. Você tinha razão em seus jogos de sorte, ao planejar apostar pelo menos uma carta boa em mim. Eles estavam certos: eu amava você como ninguém mais o faria, acredite. Um amor tão grande e intenso e verdadeiro que seria capaz de me convencer a deixa-la ir, pelo simples fato de a sua felicidade ser o suficiente para me fazer feliz.

(Short Memories, Gabriel Derlan)


quinta-feira, 27 de março de 2014

Sweet Home (Short Memories - XIII)


Ainda não estou pronto, tenho certeza disso. Caído neste chão frio, começo a desesperar-me com todos esses ao meu redor. Meus olhos verdes insistem em já não resistir ao peso, e minhas pálpebras começam a cair. Não quero voltar pra casa, não agora! Pelas minhas contas, preciso viver mais três vezes. Ainda não estou pronto para ceder a toda esta fibrilação em meu peito. O que vem depois disso? O que vem depois da  luz no fim do túnel, dos homens de jaleco branco, o que vem depois da porta do meu lar? O que me tornei, doce amigo? Hoje já sei que todos que eu conheço vão embora, no final. No final das contas, eu vou te desapontar. Eu farei você sofrer, por não ter cumprido a promessa de viver para sempre. Por ter olhado para você com olhos grandes de medo, mas no fim das contas, ter mentido em dizer que eu estaria satisfeito em partir. Hoje eu já sei o quão pesada é a diferença entre a morte e a vida. A cada minuto que passa estou me preparando para sair. Eu falei hoje ao meu futuro, e disse que estou indo embora. Mas ainda não cantei a última linha em minha música. Eu não estou pronto pra deitar, não estou pronto pra sumir. Eu não estou pronto para voltar para casa. Não gosto de ser o primeiro a sair - jamais gostei. Se eu pudesse começar de novo a milhões de milhas daqui, eu me salvaria. Eu encontraria um jeito de ser o seu herói mais uma vez. De correr por aquelas campinas ao seu lado, e ao final da tarde ver o pôr do sol sentado sobre uma daquelas montanhas - uma montanha qualquer. Ainda não estou pronto, sei que não. Haveria para mim uma cura, um recomeço? 

(Short Memories, Gabriel Derlan)




sábado, 8 de março de 2014

Straight Down (Short Memories - XII)



Entre sem bater. Pise não tão sorrateiramente em meu tapete de boas vindas e tome posse do que é seu por aqui. Você sabe que te esperei há séculos. Me embriague. Não poderia dizer que não me conhece tão bem se não soubesse meu maior vício. Tudo isso já é mais forte do que eu, e do que toda aquela vontade passageira: aquele desejo de resistir. Seria como resistir ao prazer de correr pelo que se anseia. Resistir ao ponteiro que sobe, às curvas cada vez mais envolventes e à pressão de todo o corpo no encosto. Entre sem bater, e fora de hora. Você já sabe muito bem como me surpreender com seus encantos, me domar, e me matar aos poucos. Me mate de vontade, saudade, amor. Entre devagar, passo a passo, enquanto a cidade toda estiver dormindo. Quero, enfim, acariciar teu rosto, viajar em seu sorriso, e dopar-me com seu perfume ímpar. Entre sem bater, e seja um sonho bom e real, passo após passo. 

(Short Memories, Gabriel Derlan)