sexta-feira, 24 de agosto de 2018

The same voice, The same night.




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Dirigia sem rumo meu velho carro, em uma avenida quase despovoada. Uma noite como qualquer outra.
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Esperava a noite chegar todos os dias. Em minha juventude, vivia um impasse ao aguardá-la, mas no fundo desejar que ela demorasse mais alguns instantes a chegar.

- Deveria contar-me como um dia a menos a viver? – Ela indagava.

De fato, considerar como um dia a menos a viver seria um excesso a quem tanto pregava o pessimismo. Tudo dependia do quanto eu tinha medo de ter desperdiçado um segundo sequer, quanto mais sendo momentos irrepetíveis em meu mundo.

Tinha a impressão de que quanto mais buscava justificar minha fuga, mais próxima estava minha jaula.

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Todos nós temos uma jaula.
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Cada noite de fato mostra quão grande e gradativa é a distância que estamos de nossa liberdade. Já não temos todo o tempo do mundo – ainda que relutemos em provar o contrário.

Esperava a noite chegar todos os dias. Em meu platonismo tórrido, aguardava que ela viesse a me encontrar. Indisfarçável, apreciava cada dose de seu sorriso e sonhava tê-lo junto aos meus – ainda que taciturno que era.

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No final das contas, a chegada da noite não era sequer a noite em si.
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A chegada da noite era a responsável por um de meus maiores pesos: o de não ter aproveitado cada segundo ao seu lado. De fato, a noite era um doce sonho. Mas a sua chegada lembrou-me de que nenhuma vez sequer disse que a amava, e de que sua loucura – um fascínio! – era um vício incontrolável em mim. A sua chegada era como um lembrete de que não mais a veria em minha escuridão.

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- Por que você não foi embora?
- Talvez eu não tenha sido forte como ela – respondi.