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Dirigia sem rumo meu velho carro, em uma avenida quase despovoada. Uma
noite como qualquer outra.
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Esperava a noite chegar todos os
dias. Em minha juventude, vivia um impasse ao aguardá-la, mas no fundo desejar
que ela demorasse mais alguns instantes a chegar.
- Deveria contar-me como um dia a
menos a viver? – Ela indagava.
Tinha a impressão de que quanto mais
buscava justificar minha fuga, mais próxima estava minha jaula.
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Todos nós temos uma jaula.
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Cada noite de fato mostra quão grande
e gradativa é a distância que estamos de nossa liberdade. Já não temos todo o
tempo do mundo – ainda que relutemos em provar o contrário.
Esperava a noite chegar todos os
dias. Em meu platonismo tórrido, aguardava que ela viesse a me encontrar.
Indisfarçável, apreciava cada dose de seu sorriso e sonhava tê-lo junto aos meus
– ainda que taciturno que era.
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No final das contas, a chegada da noite não era sequer a noite em si.
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A chegada da noite era a
responsável por um de meus maiores pesos: o de não ter aproveitado cada segundo
ao seu lado. De fato, a noite era um doce sonho. Mas a sua chegada lembrou-me
de que nenhuma vez sequer disse que a amava, e de que sua loucura – um fascínio!
– era um vício incontrolável em mim. A sua chegada era como um lembrete de que
não mais a veria em minha escuridão.
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- Por que você não foi
embora?
- Talvez eu não tenha
sido forte como ela – respondi.