sábado, 23 de fevereiro de 2019

Who We Are - VII




Após desligar o telefone, percebi que não havia colecionado suficiente ousadia para revê-la.

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Paro o carro a um quarteirão de distância do nosso ponto de encontro. Prometi a ela que estaria sóbrio e, há pelo menos algumas horas, sem fumar. Confesso que, conforme caminhava, buscava em mim alguma forma de disfarçar o não cumprimento de minhas juras. Pensava que, no fundo, ela sabia que eu não o cumpriria.

Ao avistá-la a uma distância suficiente, não consigo conter em mim a guerra entre desviar o meu passo até encontrar a calçada do lado oposto da rua, ou apressar os passos em sua direção.

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Quando a vi pela última vez prometi sequer roubar um sorriso, ainda que soubesse que a sua ausência me levaria à loucura.

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A distância entre nós torna-se pouca, a ponto de obrigar-me a disfarçar meu desconforto. Isso porque, impulsivo que era, tentava apagar com um conta-gotas o caos que se formava em mim, entre a incerteza de roubar um beijo e perdê-la pra sempre, ou esconder meu fascínio e ao menos embriagar-me com o doce som de sua voz, quando os céus me permitissem revê-la.

Ao caminhar em sua direção sinto um estranho silêncio ao meu redor. Sinto o seu perfume, como aquele que fez habitar em minha mente há anos atrás. Sinto como se meus passos apenas me distanciassem de nós dois e, tão logo percebo, paro.

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Tudo é diferente de quando estava aqui.

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- O que deveria fazer, então?
- Tente imaginar como é estar todos os dias sem você.


(Glide)