sábado, 9 de março de 2013

Drink and Cigarette




Acordo e percebo que dormi com a cabeça sobre o teclado do computador. O gelo que estava dentro do copo derreteu, e o Whisky que ali estava ficou aguado, obviamente. Gostaria muito de lembrar o que escrevia. Porém a forte dor de cabeça e o computador sem energia impedem meu raciocínio.

Me impressiono com a bagunça na qual transformei meu apartamento. Tento lembrar como quebrei minha mesa de centro, ou derrubei tantos livros da prateleira. As três garrafas vazias me fazem entender que bebi demais. Passo a mão no bolso e pego um cigarro. Me dirijo a varanda, sento, e começo a fumar. Não com a pressa de todo fumante. Só me restaram três, por isso desfruto calmamente do que eu acabo de acender.

O tempo está chuvoso, e uma garoa pousa delicadamente sobre a rua. Me chama a atenção a cor do céu, que está embelezado pelo sol das cinco da tarde, alternando entre nuvens mais espessas e mais tênues. Desta forma, o céu se torna ora laranjado, ora cinzento. 

Levanto-me, sigo até a geladeira e pego novamente um Whisky. Renovo o gelo do copo, ligo o computador na tomada, e sento novamente. Aqui estou, digitando. Acendo outro cigarro, e penso que muitos reprovam esta atitude suicida. 

Qual seria então o limite do imoral? Para mim, são minhas quatro paredes. Me sinto anestesiado pelo álcool e a nicotina. Me sinto feliz por todas essas dores emocionais sumirem de forma tão prazerosa. 

Começo a lembrar de todos os planos que fiz na juventude. Ora um profissional da saúde, ora músico, ora bombeiro. O que importa é a ilusão. Certa amiga me disse  uma noite - há muitos anos, em um apartamento durante um trabalho de curso - que eu escrevia muito bem. Gostaria de saber onde ela se encontra. Talvez, cuidando de cavalos.

Junto forças então, para me levantar e pegar a estrada. Tentar partir para Destino, ou talvez para Além. Talvez visitar um velho amor em algo parecido com Ouro Velho. Ultimamente o meu destino não importa. O importante é que descobri a tempo uma felicidade que não encontrei em um mundo capitalista, cujas ideias apodrecem em um câncer mundano de proporções catastróficas. Ainda há tempo de viver a liberdade.

Devaneios a parte, percebo que anoiteceu. Uma noite úmida e fria, propícia para um encontro de amor. Tenho dúvidas se devo me dedicar a dar partida no meu carro ou saio a pé, pego um bonde e vou ao outro lado da cidade. Tenho certeza que alguém está me esperando por lá, há anos. 

Uma ducha quente, uma roupa elegante e um bom perfume. Perfume que já usei em ótimas ocasiões. Tomado pela superstição, não poupo esta raridade para hoje.

Algum dia, me dedico a contar-lhe se as coisas ocorreram como planejei, e se perfumes são mesmo decisivos para uma noite perfeita. Peço licença, pois a hora chegou. Todo momento é o momento de ser o momento mais feliz. Cabe a mim a decisão de manter o momento feliz.

Até o logo,
até o talvez,
até o mais ver.