terça-feira, 17 de junho de 2014

Devaneios, Entrelinhas (Short Memories - XVII)



"Está pronto. Ao terminar o disco, ouço tudo novamente em busca de tropeços, enquanto meu corpo não chega à beira mar. E fujo todos os dias para lá, e releio doze vezes a mesma história. É um destino traçado que muda todos os dias, e me faz voltar à tona. O inverno voltando é um perfume de qualquer coisa épica que se repete ano após ano, na janela de meu quarto aberta. É cheiro de rua, de fuga, de amor mal escrito. É fraqueza, tremor, síncope. São mil e um parágrafos de devaneios mimetizados por um sorriso, um tapa, um adeus, um piscar de olhos. Subir em uma escada de vitrine, e sentir-se gigantesco. Jogar os cabelos em trevas ao lado, em chamas, em um olhar. Inseguro não segura, e seguro se faz livre. E livre se ama muito mais. Uma história velha reescrita, em menos de dez cartas à pessoa amada. Tão baixo, vil. Um coração batendo desigual. Mais de dezesseis mil dias na tentativa de fazer valer a pena. De fazer valer um dia. Uma simples corrida, a fim de merecer a volta pra casa. Um dia tudo sai dos trilhos, eu prometo."

(Short Memories, Gabriel Derlan)