quarta-feira, 8 de julho de 2015

Two steps closer (Outra velha história, e um café)



Uma noite em claro, ou duas. O tempo parecia andar vagarosamente entre as horas do meu relógio. Porém, meu sábado chegou, como a vida bem prometera. Não costumava ir ao Joe's Café durante a semana, mas a vontade de ir até lá para avisar o meu pessimismo de que ele estava certo quando disse que a correspondência da quinta de manhã não passava de mera coincidência ainda imperava.

Acordo cinco e meia da manhã de sábado e a insônia me dá um banho de água fria, cujo estrago é amenizado pela ansiedade de fazer plantão na minha mesa predileta naquele café. Tomo um banho quente, me visto, e me preparo para o vento frio que está lá fora. Uma chuva leve e desconsertante me traz à memoria uma sensação segura de um afago, um abraço, ou algo assim.

Apago as luzes, pego o meu casaco pendurado no porta-chapéu, e saio. Antes de descer o primeiro degrau, certifico-me de que carrego comigo aquele bilhete que me fez voltar no tempo, talvez uns quinze anos ou mais. É justo que esteja dentro do seu envelope, preservando aquele tão doce perfume.

Desço as escadas e saio à rua. Uma chuva delicada cai sobre a cidade. Em certos momentos parece um nevoeiro. A essas alturas são quase seis e meia da manhã e eu decido ir até meu destino a pé. Caminho por cerca de uma hora e encontro o café pouquíssimo movimentado. Por ter caminhado todo este tempo, já não sinto tanto frio. Em compensação meus pés doem e imploram por descanso.

Sento-me na mesa dos fundos do café, de costas para a porta, e aguardo alguém que me atenda. Peço um Cappuccino duplo e qualquer coisa para comer. Seria perfeito se ao menos pudesse acender um cigarro ali dentro.

Após quinze minutos refletindo sobre o que fazia sentado ali, em pleno sábado, ler e reler o meu bilhete cujo perfume misturava-se ao cheiro de café, passo a ouvir o mundo ao meu redor e por alguns instantes sinto uma intensa vertigem.

Apoio a xícara na mesa e, com a mão direita, continuo segurando o bilhete. Ouço, em meio à minha confusão, um carro que para em algum lugar próximo dali, uma porta fechando, e passos na calçada que talvez se aproximem. Em um curto espaço de tempo sou tomado pela sensação de que o perfume do bilhete está espalhado pela cafeteria toda, e em segundos de transe meus dedos sequer têm domínio sobre aquele singelo papel, que se solta e cai sobre a beirada da mesa.

Os passos continuam a aproximar-se, o perfume se propaga e uma voz doce termina de matar-me quando diz:

- Esperei ansiosa para reencontrá-lo, Gabriel!