quinta-feira, 29 de março de 2018

Anoxia



Uma noite como qualquer outra, na época em que ainda era jovem, mas já sentia como se minha mente estivesse cansada de viver no mesmo período em que as outras que me cercavam. Parecia ter ao menos mais de um século de vida em meio a pensamentos e desordens que ousavam acumular-se em minhas lembranças, fantasiando-se de coisas que realmente tivessem ocorrido.

Era um vício sem fim, e já podia perceber que todo aquele abismo fugiria em breve de meu controle. As luzes aos poucos se apagavam, e a única coisa que poderia ver era a faísca unindo-se tal qual de forma despretensiosa ao gás que saía de meu isqueiro. A fumaça que se formava em meio à bagunça de meus pensamentos de certo modo era gentil em esconder o que estava em minhas entrelinhas.

Não havia maneira de voltar, a não ser admitir que meu fim parecia ser viciante e confortável. Não havia maneira de avisar que as coisas fugiam ao meu controle, pois tal qual um crime ensaiado, todos tratavam como um mero devaneio, ou como um artifício para chamar a atenção dos holofotes. Mal sabiam que estávamos a poucos nós de entrarmos em um colapso irreversível.

Não pare!