quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Unread Letter - VII

"Afinal, o que mais viria com essa chuva? Sinto uma brisa suave, e velhas memórias vêm à cabeça. O céu fechado lá fora, me deixou um pouco atordoado essa noite. Ver a noite chegar sem estrelas, sem luar, mas com gotas delicadas, e um ar fresco, me traz um sentimento pouco conhecido. Chego a confundir com nostalgia, mas é algo muito pior.

É que na verdade, foram em dias como hoje que vivi belos momentos, em casacos e abraços aconchegantes, palavras doces, e algumas gotas de esperança de viver eternamente ao seu lado. Você poderia estar aqui, quem sabe. E ao invés de escrever algo que você não vai ler, poderia estar contemplando toda a harmonia que há em você, em um intervalo tal qual uma eternidade.

Você sempre soube que eu não gostava de ser o primeiro a partir. Errou ao me deixar escolher se deveria mesmo partir. Entrei naquele ônibus, e ao deixar o terminal senti o pior aperto de minha vida. Eu estava sendo o primeiro a sair. Você sempre soube. O pior de tudo é voltar arrependido, e encontrar a sua casa vazia. Onde estás?

Quem deveria ter medo disso tudo? Eu não havia percebido o seu lindo sorriso, a sua voz doce, e a sua insistência em encontrar algo bom em mim. Não deveria ter acreditado quando disse que era inofensiva, porque agora eu sei que você se tornou muito mais do que isso. E a verdade estava a sua frente o tempo todo.

Amo o lugar de onde estou escrevendo isso. Essas gotas no papel são da chuva que voltou a cair, até aqui na varanda, e esse perfume é o que eu vou usar essa noite, para ficar sentado aqui, e observar aquele casal apaixonado no meio da rua, pensando que poderia ser nós dois. Até mais ver, em um sonho qualquer."


(Unread letters from Joe, 2012)