quinta-feira, 27 de março de 2014

Sweet Home (Short Memories - XIII)


Ainda não estou pronto, tenho certeza disso. Caído neste chão frio, começo a desesperar-me com todos esses ao meu redor. Meus olhos verdes insistem em já não resistir ao peso, e minhas pálpebras começam a cair. Não quero voltar pra casa, não agora! Pelas minhas contas, preciso viver mais três vezes. Ainda não estou pronto para ceder a toda esta fibrilação em meu peito. O que vem depois disso? O que vem depois da  luz no fim do túnel, dos homens de jaleco branco, o que vem depois da porta do meu lar? O que me tornei, doce amigo? Hoje já sei que todos que eu conheço vão embora, no final. No final das contas, eu vou te desapontar. Eu farei você sofrer, por não ter cumprido a promessa de viver para sempre. Por ter olhado para você com olhos grandes de medo, mas no fim das contas, ter mentido em dizer que eu estaria satisfeito em partir. Hoje eu já sei o quão pesada é a diferença entre a morte e a vida. A cada minuto que passa estou me preparando para sair. Eu falei hoje ao meu futuro, e disse que estou indo embora. Mas ainda não cantei a última linha em minha música. Eu não estou pronto pra deitar, não estou pronto pra sumir. Eu não estou pronto para voltar para casa. Não gosto de ser o primeiro a sair - jamais gostei. Se eu pudesse começar de novo a milhões de milhas daqui, eu me salvaria. Eu encontraria um jeito de ser o seu herói mais uma vez. De correr por aquelas campinas ao seu lado, e ao final da tarde ver o pôr do sol sentado sobre uma daquelas montanhas - uma montanha qualquer. Ainda não estou pronto, sei que não. Haveria para mim uma cura, um recomeço? 

(Short Memories, Gabriel Derlan)