quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Before I Make My Final Run (Unread Letter - IV)

"Em um Carnaval qualquer nos cruzamos pela rua, a ponto de esbarrar. Muitas histórias nossas caíram ao chão, e por gentileza extrema me ajudou a juntar uma a uma. Olhei aquele sorriso paciente e morri um instante por dentro, a ponto de não compreender mais o que faria. Deveria correr, ou pedir o seu número?

Mal sabia que em meio às minhas histórias estavam as suas histórias, traçadas há mais de cem anos. Estavam os seus olhos, que toleravam toda a minha loucura, e a sua voz doce que dizia que eu deveria correr atrás dos meus sonhos. Haveria tempo? - perguntava a todo momento, até em cartas ao vento sobre tantas coisas passadas.

Cegamente corri a sua volta, e tentei a todo custo ler as suas páginas, suas histórias, e encorajá-la a correr atrás de suas aventuras. A conheci por dez anos, que mais pareceram dez vidas, sobre tantos sorrisos, desabafos, sucessos, imperfeições, fugas. Corri literalmente à sua casa, até mesmo em sonhos.

Como é difícil viver algo que já se sabe a séculos, dificultar algo que eu nem ao menos criei, ansiar passar o tempo todo por perto, em paz. Onde está agora? Saberia me dizer a diferença do que eu sou para o que eu deveria ter sido naquele primeiro esbarro de nossas vidas? Admito que a sua voz tão doce sara a minha devassidão minuto após minuto. Mas afinal, para onde foi?

No final das contas, eu tento acreditar o tempo todo que ninguém mais vai partir. É algo que eu não tenho mais forças para enfrentar, assumo. Talvez porque você me leva a um caminho melhor, como sempre pedi aos céus. E agora, deveria mesmo deitar-me aos seus pés, frente ao seu caminho, ou então implorar para que me levasse contigo onde quer que fosse?"

(Unread letters from Joe, 2011)