sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

I Love You, Too (Unread Letter - V)

"...deu-lhe um beijo e partiu.
Disseram-lhe um dia que não haviam limites.
Deu-lhe um sorriso, sabendo que havia uma esperança de que ele voltaria no outro dia.
Pisou fundo, levantou a poeira, e sentiu o aperto.
Sabia, é claro, que aquela era a última vez, o último beijo, último adeus.
Quis partir sem avisar, sem compromisso algum de lágrimas ou recomendações repetitivas. Estaria longe quando todos sentissem sua falta.
Mal sabia que precisariam de longas décadas para isso.
A longa avenida pareceu pequena. As curvas, imperceptíveis. As notas menores de suas músicas prediletas passaram em branco. E todos os caminhos levaram-no para longe. Os sinais sempre se abriam, não importava a velocidade.
Descobriu então que tudo não teria passado de um sonho, um devaneio qualquer. Tudo estava bem novamente, tal qual acordar de um pesadelo.
Sentiu o aperto no peito mais uma vez. Uma velha música começou a entrar na faixa de seu rádio. 
Não era tarde.
Acendeu um cigarro, contemplou as próprias olheiras, e o que restava de esperança dentro de si.
Não houveram pausas para o café, não baixou a luz. E finalmente disse Adeus. 
E foi então, que seu sonho começou a tornar-se real, mais uma vez."

(Unread letters from Joe, 2011)