sábado, 17 de maio de 2014

A Vida em Menos de Cinco Segundos e um Bilhete não Lido na Gaveta da Escrivaninha (Unread Letter - IX)



"Ah, meu amigo... No fim das contas, você sabia que nunca daria certo. Aquela ultrapassagem em curvas contra o sol era um pedido de joelhos para destracionar a sua vida. O que seria capaz de fazer para pôr tudo no lugar novamente? Eu arrisco três palpites. Na primeira das hipóteses, você tenta dar tudo de si, e pisa fundo. Não importa se a sua energia vai acabar, ou se você vai desgastar. É o que todo mundo acaba fazendo, com o pé firme para não cair. Se der a volta por cima, é possível dar um sorriso sincero sem maiores esforços outra vez. Mas os mais sonhadores acreditam que se pode voltar atrás. É estranho pensar em dar uma freada brusca em plena curva para voltar à situação anterior, mesmo estando apenas com meio caminho andado. Gente realista chamaria isso de atitude imbecil. Em última - ou na pior - das hipóteses, você poderia colidir com o outro. Não se sabe o que está vindo ao seu encontro, naturalmente. Mas te garanto: pode ser bem maior que você.
Meu caro, não sei como não percebeu que foi muito rápido. Se fosses um cavalo, estaria morto. Apenas te digo que não precisa se machucar por inteiro para perceber que está na hora de consertar as coisas. Tento imaginar o quão difícil é remoer solitariamente as situações velhas. Sei que o que lembras - ou até encontras em seus arquivos bolorentos - não é coisa para outras pessoas ficarem sabendo mais uma vez. Ninguém se importa (Muito menos com os nomes meio parecidos, que lhe remontam ao inferno). Apenas digo: Escolha bem o seu caminho. Se for adiante, saiba que possivelmente terminará as suas férias sozinho. Se desistir no meio do caminho, talvez seja tarde. Não pense demais, porque não quero que voltes logo para casa (Não nesta noite).
Até mais ver, e um singelo abraço de amigo."

(Unread letters from Joe, 2011)