sábado, 28 de setembro de 2013

Annie (Short Memories IX)

Annie é apenas uma criança. Ela corre para todos os lados, e observa tudo muito quieta. Ela é um anjo, de olhos claros. Voa alto e salta do mesmo precipício todos os dias. Annie é só uma menina doce e sincera, que não tem medo do escuro, nem de monstros, ou de estar sozinha. Ela já está sozinha há séculos, e nem por isso deixou de ser menina.

Quem matou os sonhos de Annie?

Ela observa o nascer e o pôr do sol, porque sabe que existe algo naquele brilho que tem cuidado dela. Annie não tem medo de tempestades. Ao contrário, sorri a cada raio. Cada trovoada e gota de chuva é um espetáculo, uma sinfonia aos seus ouvidos.

Sabe o que a faz sorrir? Um abraço apertado, sincero, e sem aviso, de quem ela menos espera receber algo em troca. Qualquer um sente-se um herói, ao perceber que deu um afago à esta pequena. Ela não precisa de companhia, mas a sua companhia deixa tudo um pouco mais belo. São as suas histórias de criança que fazem a graça de qualquer parque, ou jardim, ou sombra sob uma grande árvore. 

Annie é apenas uma criança. Seus erros são esquecidos dia após dia. O seu sorriso é o mais doce, o seu olhar é sensato. Annie não tem medo de fantasmas, por mais barulhentos que sejam. Ela só quer ter o prazer de terminar o dia em paz, no seu quarto de menina. Amanhã, tudo recomeça.

Annie é um anjo.

(Short Memories, Gabriel Derlan)